Modelo importado da Inglaterra em 1854
Malaposta

Em 1859, a ligação entre Lisboa e Porto através das carreiras da Malaposta fazia-se em 34 horas e passava por 23 estações de muda. Apesar do bom serviço que as diligências prestavam nessa altura, a sua extinção foi irreversível com o aparecimento do comboio, embora se mantivessem em actividade durante mais algum tempo, como atestam os «manuais do viajante» da época.

24 junho 2011

Carta ao Primeiro-Ministro


Hoje recebi, via CTT, enviada por um amigo algarvio e ex-camarada da CCAV1403/BCAV1851, (que em Agosto/65 foi mandado - o BCAV - para Angola com a missão de "defender a pátria de Salazar") uma carta assinada à mão (esferográfica de cor azul, para que não haja dúvidas) não por ele mas pelo "Autor" (também escrito à mão), igualmente algarvio e da mesma cidade do sotavento.
O meu amigo nenhum "recado" juntou à carta e não era preciso: basta ler o que vou copiar:
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Caro Sr. Primeiro-Ministro
Esta carta não é anónima por não ser assinada - porque vai assinada por mim! - mas é anónima porque reflecte aquilo que qualquer cidadão anónimo que trabalhe para o capitalismo poderia escrever.
Venho por meio desta comunicação manifestar o meu total apoio ao seu apregoado esforço de modernização do nosso país. Como cidadão comum, não tenho muito a oferecer além do meu trabalho, mas já que o tema da moda é Reforma Tributária, percebi que, ainda assim, posso definitivamente contribuir com mais do que tenho egoistamente contribuido até agora.
Vou explicar:
Por força da actual legislação, pago na fonte 31% do meu salário: 20 para o IRS e 11 para a Segurança Social. Como pode ver, sou um cidadão afortunado.
Cada vez que eu, no supermercado, gasto o que o meu patrão me pagou, o Estado, e muito bem!, fica com 19% para alimentar os grandes figurões e as suas lindas passarinhas, os amigos, os primos e os compadres.
Ora, 31+19=50.
Sou obrigado a concordar que é pouco dinheiro para o governo fazer tudo aquilo que promete ao cidadão em tempo de campanha eleitoral.
Mas o meu patrão é obrigado a dar ao Estado, e muito bem!, mais 23,75% daquilo que me paga para a Segurança Social, ainda mais 33% para as Finanças.
Ora, 50+23,75+33=106,75
Além disso quando compro um carro, uma casa, herdo um quadro, registo os meus negócios ou peço uma certidão, o Estado, e muito bem!, fica com quase metade das verbas envolvidas no caso - mas isto já dou eu de borla.
Tenho então uma sugestão, que é a de invertermos o negócio entre mim e o Estado português: declaro que autorizo o Governo a ficar com o meu salário todo.
Funcionaria assim: eu fico com 6,75% dos impostos que o Estado recebe por causa do meu salário - que é o que ultrapassa os 100% do mesmo, e o Governo paga por mim o seguinte:
-Despesas escolares, - Seguro de Saúde, - Despesas com médicos, - Medicamentos, - Materiais escolares, - Condomínio, - Água, - Luz, - Telefone, - Energia, - Supermercado, - Gasolina, - Vestuário, - Lazer, - Portagens, - Cultura, - Contribuição Autárquica, - IVA, - IRS, - IRC, - Imposto de Circulação, - Segurança Social, - Seguro do carro, - Inspecção periódica, - Taxas do Lixo, reciclagem, esgotos e saneamento e todas as outras taxas que nos impinge todos os dias, - Previdência privada e mais qualquer taxa extra que porventura seja repentinamente criada por qualquer dos poderes: Administrativo, Legislativo, Judiciário, Político ou da Comunicação Social
Um abraço Sr. Primeiro-Ministro, e muito boa sorte, do fundo do meu coração!
PS: Podemos até negociar a percentagem.
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A carta termina com a assinatura:
Autor xxxxxxxxx (assinatura legível)
xxxxxxxx (cidade)
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Nota: o layout supra correspondente à descrição dos items é, por razões técnicas, diferente do da carta, que a apresenta em duas colunas verticas divididas por um traço também vertical.

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