Quem não tem cão...
... caça com gato.
Eu tive o Farrusco. Fazia parte do pelotão que comandava em Angola. Eu gostava dele, ele gostava muito mais de mim. Simplesmente porque eu era um vulgar militar-instrumento de Salazar em terra alheia. A terra do Farrusco, um cão livre nascido em Zala! Mas gostava de mim porque nada sabia de política, de Salazar e da colonização da sua terra. Um animal que honrava a sua raça e dava lições a animais de outras raças.
O Farrusco acompanhava-me sempre. Ao princípio, com o medo dos tiros e das minas, fugia para o aquartelamento. Mas, à medida que ia crescendo e com o meu completo apoio e carinho, foi-se adaptando à balbúrdia da guerra. Uma coisa nunca deixou de fazer: ao primeiro tiro metia-se logo debaixo de mim. Eu tratava logo de protegê-lo. Preocupava-me mais com ele do que comigo próprio. Chegou a dormir a meu lado 15 noites seguidas no chão da mata.
Até que... 14 meses decorridos no inferno dos Dembos, iniciámos uma viagem de vários dias e milhares de Kms. em direção ao inferno do Leste, Huambo, Luso, Saurimo, Cazombo, Lumbala. O Farrusco não chegou ao fim. A meio da coluna motorizada conduzia eu um Unimog (ilegalmente - os condutores sempre aceitam os caprichos dos superiores) pelas perigosas picadas da maior parte do trajecto, quando me chega a informação via rádio-telegrafista de que o Farrusco fôra atropelado por outro Unimog bastante mais à frente junto à cabeça da coluna (o Farrusco, com a irreverência da sua juventude, corria a grande velocidade entre a cauda e a cabeça da coluna, saltando para o meu Unimog como que a dizer-me que andava a verificar se tudo ia bem). Morreu. Apeteceu-me chorar. Andei algum tempo triste e acabrunhado.
Revejo o Farrusco nas fotos do pelotão e nas fotos a dois, o Farrusco e eu. E nos sonhos. Porque, decorridos 38 anos, por vezes ainda sonho com a guerra, com o medo, com o Farrusco.
Bom... passemos agora ao objectivo deste post:
Uma hipótese seria esta: [_ _]. Um dia hei-de falar sobre isso, mas neste caso acho melhor dizer o seguinte:
Согласно заведенному порядку, я оставляю здесь свое сообщение. Но делаюэто в несколько отличающейся манере, как принято в таких случаях. (Никогданельзя быть уверенным, что не являешься объектом слежки!).
.Отличие выбранного способа заключается в использовании языка, не доступногобольшинству, хотя для многих не существует понятие "невозможно"... уостальных всегда есть шанс воспользоваться функцией перевода Google!
Итак, собственно, сообщение:
Я уезжаю, но скоро вернусь. В смысле, не так уж и скоро. Вообщем,своевременно оповещу о своем возвращении.
Это сообщение аналогично Rui Branco, и совершенно не похоже на Guida,каждому присущ собсвенный стиль.
Etiquetas: Pessoal/História
3 Comments:
Cheguei à Bela Vista no dia 3 de Março de 1973. Todas as outras Companhias do meu Batalhão ficaram em Zala. Na Bela Vista havia um cão. Estava sempre a dormir. Por isso, puseram-lhe o nome de "Bruto". Iríamos para o nosso sétimo ou oitavo mês, quando saímos apeados para mais uma operação, em direcção ao Bico do Pato. Nesse tempo, as operações eram de 5 dias, ou seja, 4 noites ninguém nos tirava. Para grande espanto de todos, o "Bruto" acordou e pôs-se à testa do bi-grupo (todas as operações eram em bi-grupo). Atirámos-lhe pedras, gritámos "vai-te embora, ó Bruto!" Nada demoveu o Bruto. Aquela operação também era dele. Não se lhe ouvia um som. De repente estacava. E nós estacávamos com ele. Nos grandes-autos, em silêncio, fazia a ronda constantemente. Por vezes afastava-se e, depois voltava. Sempre sem o mínimo ruído. Não havia dúvida, o cão estava treinado para a guerra. Depois da primeira operação que fez connosco, passou a ser habitual, mas não se sabe por quê, era selectivo. Ainda pensámos que só ia quando saíamos apeados. Mas não. Para nos contrariar, passou a sair também em operações em que éramos largados de viaturas. Era a nossa melhor sentinela, e quando ele resolvia ir connosco, eu ia muito mais descansado.
E no dia 10-03-1973 faleceu Joaquim Manuel de Almeida Saraiva...
Quem me pode dizer como?
Caro Baltazar, no dia 3 de Março de 1973 dei-lhe as boas vindas na então Bela Vista, pertencendo à Cart 3455 do Bart 3861.
Hoje, não recordo o "BRUTO", mas sim o então jovem Alferes Miliciano SARAIVA, a quem no início da noite de 10/3/1973-Sabado, antes da sua fatídica saída, pedi para ter muito cuidado.
Mantenho ainda na minha retina, a imagem do nu corpo, sem vida, do SARAIVA, estendido na pedra fria da enfermaria do aquartelamento da Bela Vista.
Segundo informações, que me foram fornecidas pelo ex-radiotelegrafista Do Ó, que reside e trabalha em Cascais a 2ªCª do Bº 4613 sofreu ao todo a morte de quinze dos seus membros, curvando-me eu agora, em respeito pela sua memória!
Alberto Barata
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