Viver só
Se há algo para que a vida não nos prepara é para a morte. É estúpido, mas verdadeiro, porque desde que nascemos esta é a única certeza da nossa vida. Mas existem muitos tipos de morte. A física, a partir do corpo e da alma de alguém, essa é uma dor infinita. Mas também existe a morte do amor, uma e outra e outra vez, porque podemos morrer um pouco todos os dias na ausência do ser amado, na necessidade de continuar a viver, mesmo que sem sentido. E a morte da amizade, porque a vida encarrega-se da erosão daquela dedicação entre dois seres humanos que não é passível de transcrever em palavras, é apenas o estar lá quando o outro se perdeu.
A morte das relações familiares. Os laços de sangue vão perdendo a sua força e de repente damos connosco num beco sem saída, num deve e haver de mágoas que destroem para sempre aquilo que um dia foi a nossa história, a história do nosso berço e de quem nos rodeava desde os primeiros passos. A vida é madastra, diz o povo. E se dantes tudo isto era verdade, hoje, à velocidade com que vivemos os dias, nesta luta pela sobrevivência onde todos somos vítimas, mesmo aqueles poucos que detêm o poder, económico, passional, seja ele qual for, hoje as várias mortes acontecem cada vez mais cedo e mais depressa.
Vivemos rodeados por uma multidão de conhecidos e desconhecidos. E, contudo, vivemos uma solidão tão profunda que quase tem forma física, que quase se pode tocar. O nosso medo já não é morrer só, é viver só.
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1 Comments:
Quanto mais depressa passamos pela vida menos tempo temos para cimentar amizades. Tenho saudades do tempo em que passava as noites no café com os amigos a repisar as mesmas histórias.
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