Quotas para mulheres
Os nossos políticos
e as idiotices que fazem
inteligentes.Faz-me confusão ter razão.
Não estou habituada, é verdade, e quando acontece fico ligeiramente confusa, do estilo mas se acertei e os outros se enganaram... é porque o mundo está perigoso. Em 29 de Fevereiro de 1999 escrevi sobre as quotas obrigatórias para mulheres, e sete anos depois revejo a realidade de 2006 em cada linha. Por esses dias o PS tinha anunciado, com pompa e circunstância, quais as 333 medidas para acabar com a burocracia, que apesar de a «lei das quotas» que previa um terço de mulheres nas listas partidárias não ter sido aprovada no Parlamento, dariam o corpo ao manifesto, isto é, o EXEMPLO. Ou seja, iam portar-se como meninos grandes e reger-se-iam em "casa" por essa directiva, inclusivamente na composição dos seus próprios orgãos internos. Depois disto, e em consequência directa da ousada decisão, tomaram uma primeira e emblemática medida: alargaram o número de membros da sua comissão nacional de 201 para 301. Uma medida ímpar destinada a assegurar que a entrada das senhoras não tirasse um único job aos boys que tão árdua e dedicadamente tinham conquistado o seu posto. Face a esse maravilhoso acto de MAGIA, só comparável a umas bodas de Caná, fui obrigada a alertar os meus queridos leitores para a possibilidade de brevemente serem sujeitos a novos impostos a fim de fazer face aos custos de construção de um terceiro anel na Assembleia da República. Afinal, se nenhum dos dirigentes do excelso partido, e provavelmente dos outros também, pretendia prescindir de um único dos seus viris soldados, a única possibilidade seria a de seguir o exemplo do PS, aumentando o número de constituintes, de forma a que na dança das cadeiras nenhum dos moços ficasse de pé. Ora, assim sendo, e tendo em conta que os magníficos estádios de futebol ainda não haviam sido edificados, só restava esta possibilidade de mandar somar um anel suplementar ao hemiciclo de São Bento ou uma outra, bastante mais em conta: desterrar as MULHERES para as galerias, até então destinadas ao público, ou para junto da máquina das fotocópias, para a copa ou até, como veio a acontecer, para gabinetes em países estrangeiros.
Bem vistas as coisas, escusávamos de nos ter assustado - a convicção dos promotores desta lei também não era grande, porque praticamente uma década passada tudo continua na mesma e a percentagem de mulheres deputadas ínfima. Decididamente, a conclusão a que cheguei naquele mês de Fevereiro é que não ultrapassou o prazo de validade porque ontem, como hoje, o bom povo português agradecia era uma lei a exigir a presença obrigatória de pelo menos um quarto de pessoas inteligentes nos partidos políticos. Independentemente do sexo. Mas essas quotas não as quiseram eles!
Etiquetas: Política
5 Comments:
o aumento da participação das mulheres na vida política e no exercício de cargos representativos não pode ser alcançado na base de decisões que constituem uma inaceitável ingerência na vida interna dos partidos e que apenas servem para ocultar, através de mecanismos administrativos e artificiais, as verdadeiras causas que estão na origem da persistente desigualdade no acesso e presença de mulheres em cargos políticos. Concordo com a Isabel Stilwell. A inteligência não tem sexo. E o bom povo português agradecia era uma lei a exigir a presença obrigatória de pelo menos um quarto de pessoas inteligentes nos partidos políticos eno cargos políticos em consequência, acrescento eu!!
Vivemos uma verdadeira "Ditadura Democrática" Seremos neste aspecto muito diferentes dos fundamentalistas? (Em sentido figurado claro está)
Um abraço
Este é um dos temas sempre apetecíveis de se falar, independentemente do momento e de quem o propuser para discussão. Há na verdade estruturas do nosso país onde as mulheres ainda estão arredadas de participar como elementos de validade à sua representação social e uma delas é sem dúvida a Assembleia da República. De há uns anos para cá, muito se alterou no que diz respeito à intervenção da mulher na sociedade. Profissionalmente a mulher adquiriu um respeito e uma admiração sempre crescente, desde que por direito constitucional começou a ter as mesmas oportunidades que o seu parceiro de caminhada, tendo advindo daí a ocupação de lugares de destaque em toda a vida social, mas apesar de tudo isto os degraus da escadaria de S. Bento ainda são uma miragem para as mulheres portuguesas.
O pior que poderia acontecer à mulher portuguesa, era atribuirem-lhe uma cota de preenchimento de lugares em S. Bento. O sua participação na vida parlamentar portuguesa só pode ser conseguida por mérito, independência e por padrões de honestidade intelectual, mas nunca por qualquer tipo de vassalagem ou condescendência.
comentei algures, um dia, que mais do que estabelecer divisões ou diferenças entre "machos" e "fêmeas"... o que continua a fazer sentido para mim são os neurónios e o uso que se faz deles...
Não podia concordar mais com esta crónica... Cotas para as mulheres? Como um favor que lhe sfazem? Por favor!!!! Como mulher, sinto-me ofendida...
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