Fome em Portugal
Temos vergonha de admitir que há fome em Portugal,
diz o padre Agostinho Jardim Moreira. Numa altura em que nos entretemos a questionar sobre a necessidade do TGV e da Ota, em que receamos os efeitos da crise e da recessão, se calhar não "apetece" falar da pobreza e menos ainda da fome
Mas são mais de 200 mil, dizem os números oficiais, a que não se junta a fome que não se vê. O padre Agostinho Moreira, enquanto sacerdote e presidente da Rede Europeia Antipobreza/Portugal, convive diariamente com esta realidade. E fala-nos dela, do que se tem feito para a combater e da pouca solidariedade dos portugueses.
Há anos que o número oficial da fome em Portugal se mantém nos "mais de 200 mil" e o da pobreza nos "dois milhões", mas todos sabemos que tanto um como outro estão longe da realidade.
São, são muitos mais os pobres e os que têm fome, só que o número real dificilmente o saberemos. Os números são os mesmos porque a gente não quer mudar nada. Ainda não houve vontade, nem da parte da sociedade civil nem dos políticos, de resolver o problema.
Envergonha-nos assumir que no nosso país há fome?
Envergonha-nos muito e é por isso que não queremos admitir... Em 1990, quando comecei a andar por Bruxelas por causa da rede [Europeia Antipobreza/Portugal], nem havia pobres nem havia desempregados no nosso país.
De que fome se fala quando se fala em 200 mil?
Apenas da fome mais visível, dos que procuram as instituições. É a fome dos sem-abrigo; é a fome dos idosos que vivem isolados e em condições mínimas de subsistência, sobrevivem com umas bolachas e um copo de leite... Depois há a fome envergonhada e sobre essa não há estatísticas.
Acredita mesmo que é um problema com solução?
Claro que sim, porque o problema não é a falta de géneros nem de produtos alimentares. Quantos agricultores deitam fora o excesso de produção porque a União Europeia decidiu que deviam produzir menos? E também não é a falta de riqueza; ela existe, está é mal distribuida.
O que sugere?
Há várias coisas que faltam, entre elas uma mentalidade diferente. No caso das crianças, falta uma política de educação... no caso dos idosos, é importante aumentar as pensões.
Isso remete-nos uma vez mais para a questão das oportunidades e da inserção social...
Os políticos, neste momento, estão reféns dos grandes grupos económicos. O objectivo é o lucro e o lucro dá poder. As pessoas, se vivem bem ou não, isso é secundário. As pessoas são apenas instrumentos ao serviço da economia. Ainda por altura da Expo'98 dizia-me um senhor importante: "Não se esqueça de que todos os impérios se fizeram à custa de escravos". Ora, se a mentalidade que preside é construir à custa da exploração ou de baixos salários, não importa, o que importa é que se construa.
Continua a pensar que em Portugal só existe fado, futebol e Fátima?
Não vejo muito mais. Agora até vejo pior: desencanto.
Etiquetas: Política
8 Comments:
Eu também fico zangado todas as vezes que leio este texto. Podia não ler tantas vezes, para fazer como a avestruz. Mas não. Insisto, numa espécie de autoflagelação!
Meu caro amigo, continuando na mesma toada em que tenho feito as minhas últimas comunicações às embaixadas, os pescadores lá pescar, pescam! Mas quem come são os que "não pescam coisa alguma". Mas que praga é esta, ainda mais perigosa do que a gripe das aves, que não há meio de passar? Será a gripe dos passarões, dos tubarões, dos murcões ou outros terminados em "ões"? Ladrões? Aldrabões? Sei lá...
Amigo Henrique,
Antes de mais, a satisfação pelo regresso!
A parte divulgada da comunicação à embaixada mereceu-me na hora um comentário duma frase, o que por vezes é suficiente, como me pareceu nesse caso.
Quanto ao que desabafa sobre a entrevista dada pelo padre, é tudo isso que diz. Não só não saímos da cepa torta como cada vez ficamos mais pobres, mais desiludidos e mais revoltados.
Que mal fizémos nós ao mundo para merecer tão grande castigo?!
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Vim há pouco do Briteiros onde inseri um comentário que terminava assim: penso que Portugal deveria pedir ajuda a alguns países de sucesso para que enviassem para cá uma equipa que substituisse a maior parte dos nossos membros do governo... pelo mesmo custo, ou até menos, ficaríamos tranquilos quanto ao nosso futuro!
E em Espanha, como é?
é comum ouvir-se dizer que este país continua adiado e há razão para isso.
Como geralmente estamos de acordo no essencial, permita-me discordar no acessório, isto é, sei que foi irónico e cáustico no seu comentário no Briteiros, não em relação ao autor mas em relação aos políticos que temos. Mas acontece que se optássemos por políticos estrangeiros ficávamos na mesma. O mal é que os que temos que aturar não são, de facto, portugueses. Se fossem, não fariam tanto para afundar ainda mais o nosso Portugal.
Eu acho que se quisessemos haia menos fome no mundo.Infelizmente continua a haver fome em Portugal, mas tambem há muitos casos de obesidade.
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