Bola-de-berlim
F
iz dieta no domingo. O dia inteirinho. A primeira etapa foi dormir até ao mais tarde possível, e cumpri-a com rigor e excelência. Li um artigo, numa revista científica entenda-se, que garantia que queimamos imensas calorias de olhos fechados e deitados na horizontal, como aliás sempre suspeitara. Afinal algum carburante tinha de alimentar os sonhos e os pesadelos, quer consistissem em correr um shopping com um cartão de crédito ilimitado ou salvar o escalpe em fugas de deitar os bofes pela boca! E, além do mais, é lógico: enquanto dormimos não assaltamos o frigorífico. A segunda fase do regime já foi mais complicada, mas não comi nem pão nem manteiga, e resisti até à fatia de bolo de chocolate que sobrara da véspera. Ao pôr-do-sol já tinha a certeza da vitória, mas infelizmente o ponteiro da balança não colaborou. Não se mexeu nem um graminha para baixo. Ora, para alguém que, como eu, tem plena consciência de que a vida são dois dias e um é para acordar, gastar aquelas que poderiam ser as últimas 24 horas que me restavam a privar-me do pecado da gula parecia-me um imperdoável desperdício. A sério, o importante era que metêssemos na cabeça que esta obsessão pelas dietas , que se nos cola irracionalmente como uma lapa, resulta do facto de termos transformado a "magreza" no paradigma da felicidade. Ser magro só tem a ver com a ideia mágica de que, a partir do momento em que conseguirmos "entrar" naquele biquíni sexy, então sim a nossa vida vai mudar. Vamos atrair mais amigos, mais namorados, empregos melhores, vamos ser admirados e invejados e por isso tudo felizes. Só que é tudo mentira, uma mentira que ataca sobretudo no Verão, quando somos supostos exibir um corpo escultural. Mas viaje na memória, para provavelmente concluir que o problema não pode estar nos pneus a mais nem a menos, porque se calhar nunca foi feliz numa praia, nem em pequena, nem em grande, nem em biquíni, nem em fato de banho. Se calhar o problema é mesmo a praia, porque, bem vistas as coisas, a bola-de-berlim nunca lhe caiu mal!
NM, Isabel Stilwell [que parece não conhecer todas as bolas-de-berlim, diz o autor do Malaposta!]
Etiquetas: Geral
2 Comments:
Mesmo assim, quando se consegue "entar" num corpo com um biquíni sexy, a nossa vida muda um bocadinho. Nem que seja por breves instantes.
Um abraço!
Ilusões, falsas realidades... Um corpo belo e esbelto é, hoje em dia , o objectivo de muita gente. Quando o objectivo do emagrecimento está centrado unicamente nesta permissa e não numa questão de saúde, há quem faça as maiores barbaridades para se sentir uma sereia ou um Adónis. É simplesmente ridículo e até humilhante, se pensarmos bem no assunto. Mas a culpa é da sociedade em que vivemos porque prefere os estereotipos à inteligência e á capacidade de cada um e orienta a nossa vida em função da hegemonia do corpo esbelto e esguio padronizado por valores culturais e mercadológicos. Sim, porque o raio do "dinheiro" está na mira de toda esta panóplia de produtos de emagrecimento que pretendem fazer-nos crer em contos de fadas.
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