Modelo importado da Inglaterra em 1854
Malaposta

Em 1859, a ligação entre Lisboa e Porto através das carreiras da Malaposta fazia-se em 34 horas e passava por 23 estações de muda. Apesar do bom serviço que as diligências prestavam nessa altura, a sua extinção foi irreversível com o aparecimento do comboio, embora se mantivessem em actividade durante mais algum tempo, como atestam os «manuais do viajante» da época.

04 novembro 2006

Os dias-talvez

É certo que o horizonte não é, senão, uma linha imaginária. Embora exista. E que o céu não é um promontório que fica sobre as nuvens (mesmo que pareça um braço de terra, impetuoso, que atravessa o pensamento). É certo que quase nada vale por aquilo que parece. E, no entanto, talvez o que pareça valha sobre o quase-nada que lhe falta para ser tudo aquilo que não é.
Nunca nascemos preparados para aquilo que parece. Pelos olhos dos nossos sentimentos, o mundo é branco ou preto, é bom ou mau, é escuro ou luminoso, colorido ou desbotado, fantástico ou tenebroso. Pelos olhos dos nossos sentimentos, existem dias-sim ou dias-não, mas os dias-talvez são, certamente, quem domina o crescimento.
Os dias-talvez fazem-se de tudo aquilo que parece. Não são nem bons nem maus, nem escuros ou luminosos. São dias. Iguais aos outros. Não são nem fogosos nem pachorrentos. Nem curtos ou intermináveis. Nascem, como todos os dias, pela manhã, e adormecem, devidamente, com o pôr do Sol. Nos dias-talvez funciona-se, sem que se crie. Olha-se sem que se escute. Ouve-se mas não se vê. Nos dias-talvez as pessoas parecem felizes, mesmo que se tolerem. E são bondosas, apesar de maldizentes. São carinhosas, se bem que omissas. Atentas, quando - sobre tudo - sobressai a sua distracção. E argutas, mesmo que mal pensem por si. Nos dias-talvez o futuro curva-se ao destino, e a esperança aos ressentimentos que polvilham o passado. Nos dias-talvez não são as novas relações que nos dão um horizonte. Ou o céu. Nos dias-talvez chega-se ao amanhã depois de se arrumar, com método, tudo o que ficou, disperso, para trás.
Nunca nascemos preparados para aquilo que parece. Mas aquilo que parece é que domina o nosso crescimento. E quando, algures na nossa vida, perscrutamos pelo sim e pelo não dos nossos sentimentos e se vislumbram, sobretudo, os dias-talvez, o horizonte deixa de ser uma linha imaginária. Devagarinho, transforma-se num promontório que fica sobre as nuvens. O quase-nada que nos falta para sermos tudo aquilo que não somos parece distante e dispensável. E o céu passa a ser o horizonte de todos os talvez.
É certo que quase nada vale por aquilo que parece. E que, diante de tudo o que intuímos que falta ao que parece, todos nascemos pequenos. E assim permanecemos. É certo que, por vezes, aquilo que parece se sobrepõe (tanto e tanto) aos nossos sentimentos que, sobre a confusão de branco e de preto, ou de bem e de mal, parecemos grandes e seguros. Mas há um quase-nada que nos leva a escutar e a ver. Nos encaminha para a bondade e para o carinho. E nos torna atentos. Com esperança e com o futuro. Basta que, sobre tudo aquilo que sentimos encontre, no horizonte de alguém, o céu.

Eduardo Sá, NM

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4 Comments:

At 06 novembro, 2006 22:32, Anonymous Anónimo said...

hola te quiero pedir un favor
que visites Fragmentos hay algo lindo y pequeño de un amigo tuyo
gracias
una linda semana

 
At 24 novembro, 2006 03:06, Anonymous Anónimo said...

ola, nao o conheço, nunca vi o seu blog, mas gostei muito do texto do Eduardo Sa. Parabens pela escolha! Ja agora, sabe onde posso encontrar (na net) mais textos dele? Obg!
Marco Silva

 
At 24 novembro, 2006 03:07, Anonymous Anónimo said...

ola, nao o conheço, nunca vi o seu blog, mas gostei muito do texto do Eduardo Sa. Parabens pela escolha! Ja agora, sabe onde posso encontrar (na net) mais textos dele? Obg!
Marco Silva

 
At 24 novembro, 2006 16:23, Blogger a.castro said...

Caro "anonymous" Marco Silva,
O Eduardo Sá escreve semanalmente na revista Notícias Magazine que faz parte integrante do Jornal de Notícias publicado aos Domingos.
Para encontrar escritos ou imagens na net, nada melhor do que fazer uma pesquisa através do Google.
Da primeira pesquisa que fiz, escrevendo o nome do Marcos Silva e clicando em "Imagens", escolhi este link: Eduardo Sá.
Na segunda pesquisa, escrevendo o nome e logo de seguida clicando em "Procurar", surgem diversos links, dos quais escolhi este:
Eduardo Sá, livros.

 

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