Vat 69
Todos temos um segredo, senão vários espalhados pela vida fora. A Sofia não fugia à regra. Era honesta, verdadeira, intuitiva e instintiva. Socialista ferrenha, não se importava que os socialistas governassem à direita. Nas últimas eleições votou PS (Partido do Sócrates) para evitar o PSD (Partido Sem Direcção). Digamos que era excêntrica, não tinha contas no banco. Em casa não tinha electricidade, iluminava-se com velas e, nas longas noites de Inverno, com candeeiros a petróleo. À noite, lavava os pés no lavatório e as virilhas na Fonte Luminosa. Nada a descontentava. Nem o facto de ser do Benfica e não ganhar nada, a não ser a entrada para o Guiness! A Sofia era feliz e assim é que era. Nem mais, nem menos! Quando as coisas corriam menos bem, ia dar uma volta para se distrair. E distraía-se, de bar em bar, de tasca em tasca, de nada em nada! Nos intervalos dos congressos do PS, costumava apanhar goleadas de VAT 69 com os homens tristes, cheios de verdades inúteis e certezas de meia tigela! Por vezes, acontecia trazer para casa um triste perdido, mesmo que fosse do Sporting ou do Porto, do PS ou do PSD.
A Sofia era uma mulher civilizada. Com ela, os tristes não precisavam de electricidade, nem de emprego, nem de dinheiro para serem felizes. Bastava saberem contar ate 69 e dormiam no chão espartano como portugueses de primeira! É que a Sofia nao se vendia ao quilo! Assumia-se como uma troca de generosidades entre marginais! E sabem que mais? Era feliz!
Paulo Anes, in Destak.
Etiquetas: Sociedade
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