Política à la Bilderberg
Política da inspiração
José Sócrates foi convidado em 2004, como Santana Lopes e António Vitorino. Dois deles ascenderam, em seguida, à governação do país e o terceiro era comissário europeu. No fundamental, as políticas harmonizam-se em dois vectores: incrementar as privatizações e reduzir os direitos sociais.
Não faltam exemplos que documentem esta orientação. A saúde, as indústrias do ambiente, os transportes e mesmo funções do Estado estão na mira do mercado. Simultâneamente são reduzidos os direitos sociais e laborais na administração pública, no ensino, na saúde e na justiça, entre outros.
As reformas e pensões sofrem cortes e um pacote de medidas foi também já anunciado para o poder local, com vista à redução da sua capacidade financeira, o que se poderá traduzir, a prazo, na redução dos serviços prestados e do quadro de pessoal.
Opções que o governo toma sem auscultar quem quer que seja, nem mesmo os deputados da maioria. A obsessão actual transcende a do défice. A estratégia em Portugal e noutros países visa aumentar a apropriação de parte do quinhão que cabe ao trabalho no rendimento nacional e expropriar parte dos direitos adquiridos.
As empresas, por seu turno, aumentam a exploração dos trabalhadores. A maximização dos lucros conduz às migrações de unidades industriais para os paraísos de mão-de-obra, o que embaratece os custos e pressiona em baixa as remunerações praticadas nos países que abandonam. Se o capital era nómada e volátil, o próprio emprego tornou-se hoje errante.
Neste quadro de instabilidade e de retrocesso civilizacional, destacou-se esta semana a resposta dos trabalhadores da General Motors. Face à intenção de deslocalizar a fábrica da Opel na Azambuja, os trabalhadores entraram em greve. Mas não ficaram sozinhos, contaram com a solidariedade dos trabalhadores da General Motors de Espanha e da Alemanha.
A globalização dos movimentos sociais parece ser hoje a resposta necessária às estratégias transnacionais do capital.
São muitas as medidas, propostas e projectos que o Governo de José Sócrates tem lançado na agenda política. Todas elas suscitam controvérsia e prenunciam o agravamento das condições sociais e das desigualdades, e o acréscimo de obstáculos no acesso a direitos fundamentais.
Mas as críticas a esta política são também generalizadas, embora a sua expressão pública esteja aquém dos seus pronunciamentos. A concentração da propriedade dos meios de comunicação social acentua o controlo dos fluxos informativos e a escolha dos assuntos que são notícia. Além disso, a política governativa é servida por estratégias de comunicação e difusão que as colocam em agenda na perspectiva da mensagem transmitida pelas suas fontes.
Para os sectores que contestam as políticas da governação, há nelas uma inspiração evidente. Decorre da ofensiva global a que hoje se assiste e que é enformada pelas concepções neo-liberais. As linhas de orientação do actual governo não diferem das políticas levadas já à prática ou em curso de concretização noutros países. Como não diferem as estratégias corporativas das empresas transnacionais.
Essa política de inspiração é bebida nos fóruns, encontros e conferências internacionais, onde se debatem e harmonizam os planos e acções a empreender.
Os senhores do mundo reuniram-se entre 8 e 11 de Junho, em Otava, sob o patrocínio da organização Bilderberg. Para lá confluíram os financeiros, os capitães da indústria, os políticos, os académicos e os jornalistas que têm poder para influenciar o mundo.
David Rockfeller, Henry Kissinger e a rainha Beatriz são três das principais figuras desta sociedade secreta, que se reúne desde 1954. Pinto Balsemão é quem convida os portugueses e este ano levou com ele o deputado Aguiar-Branco, do PSD, e o ministro Augusto Santos Silva, do PS.
Embora seja de supor que não trouxessem uma cassete com instruções na bagagem, informaram e ficaram informados sobre os pontos de vista desta comissão consultiva transnacional.
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Etiquetas: Política